Poemas de Myra

Poemas en español

Se abre el mundo
Se abre el cielo
-las flores se ríen-
Se cierran mis ojos
Se abre mi cuerpo
-tiemblan las hojas-
Se encienden la luna
Se va el viento
Se abren tus ojos -azules-
Se abre la tierra
Se oye la lluvia
Y sobre mi piel,
El rocío -tu-
1968
Poemas en portugues

Esta vida e um adeus
um a Deus
um a dois
E é só.
1978

Saudades sons vozes
Quantas
Uma resta
Voz profunda
Voz de alguém
Voz do além
Suave
Grave
Nostalgia
Voz surrealista
Que acaricia
Que machuca
Mas consola
Voz tão só
Tão rica
Voz distante
Que me chama
Em chamas frias arrepiantes
Voz
Não quebra rostos
Não arresta corpos
Voz dura
Meiga
Suplicante
Voz que domina
Que persegue

Moleque
Da rua
Da praia
Do cais
Moleque
Que não tem pai
Que a mãe não sabe
Moleque
Sozinho mo mundo
Amiguinho esperto
De cabelos pretos
Loiros
De cabelos sujos
Moleque
Cigarro no canto da bôca
Hálito de pinga
Cheirando a amor
Cheirando muito cedo a vida
Moleque
Caricatura de homem
Rasgado
Corre pelas ruas
Na chuva
No sol
Na lama
Sapatos nunca viu
Moleque
Vem cà
Toma
Toma

Adormeci
À sombra
Do vale
Da onda
Sonhei
À sombra
Do vale
No branco
Da onda
Vi pássaros
Na sombra
Do vale
Senti o vermelho
O azul
Dos peixinhos
da onda
Onde
Na ronda
Da vida
Te encontrei
Sorristes
Olhei
Partistes
Na sombra
Do vale
Na onda
Triste
Onde
Dormi um dia
Uma noite
Uma vez
À sombra do vale
No branco da onda
ronda
Da vida partida

Terra vermelha
Pinheiro bravo
Nuvem de prata
Choran
Sobre os vales os montes os prados
Sou José da Mata
Na mata nasci
Aqui me criei
A mata venci.
Sou José da Mata
E quatorze filhos
Dei a mata
Sou José da Mata
Fui feitor dos escravos
De sinha Renata
Sou José da Mata
Esta terra vermelha
Da mata
Con meu sangue eu reguei
Estes pinheiros bravos
Desta mata
Com meus dedos eu plantei
Terra vermelha
Pinheiro bravo
Casa nuvem
Sol e chuva
Sou José da Mata
Chuva apanhei
Cocos eu dei
Dei pr’a defender a mata
A mata
Do José da Mata
Dias passei
Caminhando noites passei
Recostando
E todos diziam
E tudo dizia
Es José da Mata
Tua e a mata
E assim fui vivendo
Cem anos
Caminhando
Lutando
Criando filhos
Criando potros
Criando gente
Terra mato
Dando homens a esta mata
Pois
Sou José da Mata
Da mata surgi
Na mata viví
Pr’a ela envelheci
Sou José da Mata
E num cair do dia
Nela cairei
Pr’a ela tornarei.
1952

Caboclo
Corpo inquieto
Alma rija
Caboclo
En cima de Tupí
ou de Brasil
desbravando selvagem
Caboclo
Vai vai vai
Pr’o sertão sem fim-
O sertão sem fim-
Caboclo
Triste
Bravio
Caboclo
Dos doidos potros
Caboclo
Viveu
Caboclo
Que depois morreu
1952

Sou a rua onde moras
Sou a noite que te cobre
Sou ninguém
Sou tudo
Sou alguém no vasto mundo
sou alguém como tú.
1952

Chico Pião
Caboclo
Homen de terra
Terra do homen
Caboclo
Homen duro
Terra boa
Caboclo
Sete filhos da mulher
quatro da outra
Caboclo
Boiada vem
Boiada vai
Caboclo
Caboclo
Riscado de vento
Riscado de sol
Caboclo
Terra
Terra pisada por homen
Pisada por bicho
Caboclo
Pisado pela terra
Terra que dà
vida
Vida de caboclo
Caboclo
rêde e luar
Sol e arreio

Cavalo branco
Pasto verde
Dois meninos pretos
Carroça cor de barro
Choupana a beiro do rio
Choupana perdida
Choupana que abriga
Dos meninos
Os meninos da carroça
Os dois meninos pretos
O cavalo branco
O pasto verde
A preta velha
A beira da estrada
A beira da vida
Olha
Os carros que passam
Passa
Os olhos na gente
A preta velha
Não entende
-quem são estes, sinhô Deus,
Que assim correm
Que assim sujam
Este pasto verde
Meu cavalo branco
Que não deixam
passear
Meus dois meninos
Meus pretinhos e a carroça?
A preta velha
Na choupana perdida
A preta velha se abriga
Na choupana de sua vida
-quero andar
No teu cavalo branco
Andar a beira do rio

Orvalho
Saudade branca
Branco
Luto de criança…
1962

Óxido de ferro
Poeira das folhas
De outono
Pó da terra
Manchada de verde
Óxido de ferro
Das estrelas
Que sem brincar com elas
Das luas
Que sem olhar
Para elas
-deixou-
Oxidada de
Saudades me
Deixou-
1962

Canção
Casa amarela
Casa velha
Casa suja
Da minha favela
Da minha favela
Bananeira verde
Verde e amarela
Bananeira velha
Que dá sombra
A casa da minha favela
Da minha favela
Cachorro que está velho
Que está triste
Cachorro amigo
Guarda
Minha casa na favela
Na minha favela
Garoto sujo
Despenteado
Menino vivo desmazelado
Meu menino que enche de vida
A casa amarela a casa suja
Da minha favela
Da minha favela
Violão no canto
No canto
Do cuarto escuro
Escuro
Da minha casa na favela
Na minha favela
João Tinoco Mariazinha
Nas outras casas vizinhos
Casas tão velhas
Tão sujas
Mas não tão amarelas
Quanto a minha
A minha casa amarela
Da nossa favela
Da minha favela
Hoje
Minha casa caiu
A bananeira apodreceu
Meu cachorro morreu
O garoto se foi
Meu violão quebrou
Os vizinhos cadê?
A minha favela
Donde está ela?
1952

O dia está frio
O prego na parede
Agarra
O frio
E me cobre
De um ar branco
Arrancado à tristeza
1962

banais
fúteis
estúpidas
coisas da vida
vida das coisas
doidas
imensas
estupendas
coisas da vida
vida das coisas
coisas
que vem
e que se vão
se vão
vão
Coisas da vida
Sem a vida
Cadê as coisas
Cadê a vida
Se foi
Ficam
As coisas
Fica
A vida
Mas
não há mais
Coisas da vida
Mas
não há mais
Vida das coisas
1952

Casa velha arruinada
escada podre despedaçada
porta morta escancarada
um velho
uma velha
abandonados
um gato feio
na escada.
cada dia
que se ía
o velho saia
ía
a velha acompanhava
e dava
o resto da sua vida
na comida do gato
ato inútil
gato ja não comia
de tão velho
ia com o velho
como a velha
ían
caindo da vida
na velha casa arruinada
onde ainda havia
uma escada despedaçada
em frente a porta morta
escancarada
no nada
dos dias que se ían.
1952

a flôr sozinha
vermelha
envolve e cresce
e sorrí ao sol
que a queima
triste…
1962

Povo
Escuta
Não sei o que sou
Sou alguém na rua
No vasto mundo
Sou alguém que compreende
Alguém que te quer
Que quer dizer ao povo
Que é povo
Sou alguém que quer teu bem
Sou o samba
Sou o vento
Te despenteia
Te enche de poeira
Sou a calçada onde pisas
Sou o violão
Que fazes gemer
Sou a folha
Caio no chão
Chão de terra
Pedra
Sangre
Poemas en frances

L’air qui siffle
Tu le chantes
La chanson que je chante
Le vent l’emporte
Siffle l’air que je chante
Chante la chanson
Que le vent emporte
Juin 1967